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A GESTÃO DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA NO SEIO DA IGREJA ANGOLANA

27 January 2019
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"COMO TÊM SIDO GERIDOS OS CASOS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA NO SEIO DA IGREJA"

Recentemente acompanhamos um caso chocante: O caso de Carolina, a jovem senhora encontrada morta dentro da fossa em sua própria casa. O marido de Carolina confessou ter morto e colocado o corpo da esposa na fossa de casa.

O mais chocante é que ambos eram ministros do evangelho cultuando na mesma denominação. Portanto estamos perante um caso de violência doméstica no seio de um lar cristão.

Mas antes de aprofundarmos tentaremos fazer algumas definições.

Violência doméstica: é qualquer forma de violência que seja praticada dentro do contexto familiar.

Consiste num padrão de comportamento violento que parte de uma pessoa contra outra, dentro de casa, em casamentos ou uniões de facto. Além de acontecer entre cônjuges pode também vitimar crianças ou idosos.

A violência entre cônjuges é denominada violência conjugal. A maioria absoluta dos casos de violência doméstica ocorre de homens contra mulheres.

Tipos de violência doméstica

  1. Violência física: qualquer tipo de comportamento que ocasione danos à saúde do corpo ou a integridade física da vítima.
  1. Violência sexual: qualquer tipo de comportamento que obrigue alguém a participar ou presenciar atos de natureza sexual, sem que tenha dado consentimento para isso. A pessoa pode ter sido obrigada por meio de ameaças, uso de força física, suborno, chantagem, coação, etc. Também constituí violência sexual: Impedir a utilização de métodos contraceptivos.
  1. Violência moral: qualquer acção que leve alguém a sofrer difamação, injúria ou calúnia.
  1. Violência patrimonial: destruição, retenção ou privação da posse de itens de alguém como: documentos, instrumentos de trabalho, bens, objectos, dinheiro, etc.
  1. Violência psicológica: condutas que causem algum tipo de dano a saúde psicológica do indivíduo podendo levar a diminuição do auto- estima ou prejuízo do seu desenvolvimento pessoal.

Ex: - Controle de crenças, decisões, acções ou comportamento de alguém.

- Manipulação

- Humilhação

- Perseguição

- Insultos

- Isolamento forçado

- Obstrução do direito de ir e vir

Causas da violência doméstica

  1. Ciúmes
  2. Desemprego
  3. Pobreza
  4. Problemas com dinheiro
  5. Consumo de álcool e drogas
  6. Machismo (o homem sente-se o “ dono” da mulher)
  7. Recusa em manter relações sexuais
  8. Desobediência da mulher
  9. Falta de diálogo
  10. Dificuldades no trabalho
  11. Vivências infantis de agressão ou violência parenteral

Ciclo da violência doméstica

É uma maneira para se entender mais facilmente como esse processo se manifesta na sociedade, principalmente entre casais.

1º A fase de tensão: É nela em que os insultos e ameaças acumulam-se.

2º A fase da agressão: É nela aonde ocorre a agressão física, numa explosão violenta e descontrolada da tensão acumulada até ao momento.

3º A fase de lua de mel:

Na qual o agressor pede perdão, faz juras e mudanças de comportamento ou age como se a agressão não tivesse ocorrido. Tende a ficar mais calmo e carinhoso, no momento em que a mulher imagina que a agressão não voltará a repetir-se…

O ciclo repete- se e as agressões tornam-se cada vez mais danosas e as fases acontecem em intervalos menores.

Assim, permanecer num contexto de violência como esse, sem ajuda de família, amigos ou da igreja faz com que os riscos de consequências graves só aumentem.

A vítima precisará de apoio e não de ser julgada.

Depois de terem sido descortinados alguns aspectos sobre a violência doméstica, reflictamos sobre como têm sido geridos os casos de violência doméstica no seio da igreja.

Infelizmente no nosso meio quando uma mulher casada é agredida pelo marido, a maior parte das pessoas coloca panos quentes e dizem: Aguenta só, vai melhorar… A nossa sociedade não tem sido suficientemente dura com o agressor, o que faz com que tais práticas sejam cada vez mais frequentes. Até a polícia diz: Isto é briga de casal, resolvam entre vocês em casa. E temos visto muitas mulheres a serem queimadas, espancadas e mortas pelos próprios maridos.

A igreja deve ser a 1ª a levantar-se e a combater este tipo de prática.

O marido em nenhum momento deve agredir a sua esposa, pois a Bíblia diz em:

Efésios 5:28-29: “ Assim devem os maridos amar as suas próprias mulheres, como aos seus próprios corpos. Quem ama a sua mulher ama-se a si mesmo”.

“Porque nunca ninguém aborreceu a sua própria carne, antes a alimenta e sustenta como também, o Senhor à igreja”.

I Pedro 3:8:” Maridos coabitai com elas com entendimento dando honra a mulher como vaso mais fraco… para que não sejam impedidas as vossas orações.

Portanto o marido deve amar a sua esposa, protege-la e cuida-la e nunca agredi-la.

Não existe ninguém que não falhe, que não cometa algum excesso. Mas vamos supor que um marido cristão agrida a sua esposa cristã, num momento de ira descontrola-se e agrida a sua mulher ( o típico ciclo de violência doméstica).

Como deve ser a gestão deste caso no seio da igreja?

De acordo a Bíblia sagrada:

Em Mateus 18:15: “ Ora se o teu irmão pecar contra ti, vai e repreende-o entre ti e ele só.

Marido cristão agride a sua mulher pela 1ª vez, a mulher deve conversar com o seu marido acerca desta conduta, que é errada, é pecado. Com o objectivo que o marido deixe tal prática. E é claro, a mulher deve perdoar e orar pelo seu marido.

E se depois de alguns meses o marido volta a agredir a esposa?

Mateus 18:16: “ Se o teu irmão não te ouvir leva ainda contigo um ou dois, para que pela boca de duas ou três testemunhas toda a palavra seja confirmada”.

A mulher pode recorrer a um ou dois cristãos idóneos (ex. padrinhos) e com bom testemunho, pode também recorrer a um pastor, um líder cristão para abordar o assunto e o marido deve estar presente. Tudo isto no intuito de resolver o problema e também ajudar o marido a mudar de comportamento.

Mas infelizmente o que se nota é que no seio da própria igreja a mulher cala-se, fecha-se em copas. Porque em alguns casos a mulher é ensinada a sofrer em silêncio, a somente ter fé e a orar porque as coisas vão melhorar.

A oração tem poder e a mulher cristã que é vítima de agressão deve orar, mas para além de orar, ela deve seguir a orientação bíblica para a sua própria segurança e para libertação do marido.

E se depois de tudo isto: A mulher já conversou com o marido, cristãos idóneos já repreenderam o marido, inclusive o marido já foi disciplinado, mas mesmo assim continua com a violência: Agride a mulher, deixando-lhe inclusive marcas no corpo. O que esta mulher deve fazer a seguir?

Mateus 18:17: “ Dize-o a igreja e se também não escutar a igreja, considera-o gentio e publicano.

Estou a falar de um marido que agride recorrentemente a sua mulher. Ciclos de violência cada vez mais frequentes e danosos para a esposa.

Pecado recorrente, o marido não quer melhorar, a liderança da igreja deve reunir com os membros da igreja ( ex. membros baptizados ou corpo ministerial), expor o caso, repreender o irmão perante a assembleia e orientar o irmão a deixar tal prática.

Amados a Bíblia é muito linda, tem orientação para tudo.

Porém se o irmão insistir na mesma prática:

Mateus 18:17: “ Se também não escutar a igreja, considera como um gentio e publicano”.

Paulo em I Coríntios 5:5 disse: “ Seja entregue a satanás para a destruição da carne, para que o espírito seja salvo no dia do Senhor Jesus”.

I Coríntios 5:13: “ Tirai pois entre vós a esse iniquo”.

Pela Bíblia podemos entender, que se o marido em causa insistir no mesmo pecado depois de passar por todas as fases citadas, deve ser expulso da igreja.

E como fica a esposa diante de tudo isto? Uma vez que o marido foi considerado gentio, foi expulso da igreja?

A mulher não deve ter nenhum tipo de ressentimento contra este marido.

Como ele já foi considerado gentio, a irmã deve procurar a polícia, para que a polícia tome as medidas que se impõem para esses casos.

Se mesmo assim a polícia já foi accionada, já repreendeu o agressor e mesmo assim ele não melhora…Continua a agredir a esposa, a mulher vê que tem risco de perder a vida… A mulher deve fugir, fugir deste marido.

E existe base bíblica para isto, porque muitos dirão é só orar irmã! Orar sim! Mas agir também!

Se a vida da mulher está em risco, o marido quando bate tranca a porta, a mulher já foi parar ao hospital por causa das agressões, já deu queixa a polícia e nada… A mulher deve fugir.

Eis aqui 2 exemplos bíblicos:

  1. Herodes estava a matar todos os meninos de 2 anos para baixo, pois queria matar Jesus. O anjo do Senhor orientou a José e Maria a fugirem com o menino para o Egipto (Mateus 2: 13-16).

Deus podia ter resolvido a situação de outro modo, mas não o fez. Eles tiveram que fugir, para que Jesus não fosse morto.

  1. Exemplo de Davi

Saúl estava com ciúmes de Davi, tinha tanta ira que queria matá-lo, a situação ficou tão difícil para Davi que ele teve que fugir (I Samuel 19:9-12).

Davi era um homem de oração, um homem de fé, que venceu Golias, mas teve que fugir para não ser morto por Saúl.

Caso de violência doméstica com risco de vida, a orientação bíblica é Foge!

Não estamos aqui a fazer apologia ao divórcio, mas quando há risco de perder a vida para um dos lados, depois de serem esgotados todos os recursos para resolver o problema, o último recurso é a separação.

A igreja deve posicionar-se a luz da Bíblia quanto a violência doméstica, para que outras vidas não sejam ceifadas como o caso fatídico da nossa irmã Carolina.

“ Porque a violência doméstica é crime e é pecado!”

 

Maria Baptista Carlos__________

É diaconisa e coordenadora da sector de evangelisto da juventudo do Maculusso.

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